Há muito tempo, uma chefe dizia que ‘ter filhos é conviver
com a culpa’, eu ria, mas hoje consigo entender o que ela falava! A culpa e a
cobrança começam no minuto do nascimento: parto normal, mamou na primeira hora,
tomou anestesia, mamou, tomou leite, foi para a creche, ficou em casa, deu
antibiótico, deu comida, continua mamando... e por aí vai.
Fiz a opção de manter minha filha na creche. Junto dessa
decisão, veio o relacionamento com
outros pais, dos coleguinhas da creche da minha pequena. Criamos um grupo de
whatsapp, para que as mães e pais se conhecessem e trocassem ideias sobre o
momento que está todo mundo vivendo, a grande maioria, são pais de primeira viagem. Rapidamente
aprendi que o desafio de trocar informações de forma saudável e isenta esbarra em questões não declaradas, e que permanecer
em um grupo de pais envolve sabedoria, paciência, envolvimento cauteloso.
Tive alguns problemas com a direção da escola. Questionei
algumas práticas, levantei bandeira junto a outros pais, redigi um documento
expondo os questionamentos colocados no grupo. Na hora de assumir, assinar e
levar para a escola, tive poucas adesões. Mas mesmo assim levei o assunto adiante.
A escola me deu uma resposta simplória. Não se falou mais sobre o assunto.
A postura da escola me deixou mais enfurecida ainda. “Se
quiser tirar sua filha, tudo bem, até liberamos você do pagamento da taxa de cancelamento
do contrato”. Chorei de raiva e cogitei seriamente buscar outra escola.
Procurei outras escolas do mesmo padrão, mas equilibrar horário, atividades,
cuidado com as crianças, estrutura e preço não é uma equação fácil. Apesar de
tudo, entendi que ali ainda era a melhor opção para mim.
É comum que os pais tenham insatisfações ou que relatem
alguma situação ‘revoltante’: mordidas, assaduras, machucados não informados,
etc. Mas é impressionante como a pauta do “é um absurdo, vou tirar meu filho da
escola” vai e volta, que nem iô-iô.
Naquele momento que fiz a escolha de mantê-la na escola, eu
ponderei muito se conseguiria lidar com a falta de diálogo e inflexibilidade da
direção. Não é fácil. O exercício de filtrar o que é importante e o que pode
ser tolerado é grande, contínuo, diário. Entendi que minhas críticas estavam
ligadas a uma administração que não vai mudar. Portanto, se eu escolhi permanecer ali,
deveria assumir a escolha e tentar seguir em paz com ela.